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O estudo de sorologia da CoronaVac conduzido em Serrana (SP), publicado no início de abril na revista IJID Regions, da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, comprovou que a vacina é eficaz no esquema inicial e na dose de reforço, mantendo altos títulos de anticorpos e soroconversão acima de 90% um ano após a segunda dose, tanto em adultos como em idosos. O artigo é um subestudo do Projeto S, que avaliou a efetividade do imunizante durante a pandemia de Covid-19 em 27 mil pessoas, e foi conduzido pelo Instituto Butantan e pelo Hospital Estadual de Serrana.

Os pesquisadores acompanharam durante um ano 3.902 voluntários, sendo 42,4% pessoas acima de 60 anos. Para verificar a resposta imune humoral (produção de anticorpos) da CoronaVac ao longo do tempo, foram coletadas amostras de sangue no 4º, 7º, 10º e 13º mês após a segunda dose.

Um ano depois da imunização, os participantes apresentaram, respectivamente, soroconversão de 100%, 96,6% e 96,5% para os anticorpos IgG anti-RBD (específicos para o local de ligação entre a proteína Spike e as células humanas), anti-N (para a proteína nucleocapsídeo, do interior do vírus) e anti-S (para a proteína de superfície Spike).

“Nossos dados mostraram que há formação de imunidade sustentada com duas doses de CoronaVac, e que a terceira dose homóloga teve um papel importante para aumentar e sustentar os anticorpos ao longo do tempo. Em Serrana, mais de 95% da população adulta e idosa recebeu CoronaVac como reforço”, afirma o diretor de Atenção à Saúde do Hospital Estadual de Serrana e autor do artigo, Gustavo Volpe.

De acordo com o estudo, o esquema vacinal inicial aumentou consideravelmente os títulos de anticorpos e soroconversão nos participantes. Quatro a seis meses após a segunda dose, no entanto, foi observada uma leve queda na proteção – situação que vinha sendo documentada para as outras vacinas contra o SARS-CoV-2. Por isso, em setembro de 2021, o Ministério da Saúde recomendou uma terceira dose para os idosos e, em novembro do mesmo ano, para adultos. O estudo feito pelo Butantan em Serrana teve como objetivo avaliar justamente o impacto dessas doses de reforço e sua relação com o esquema vacinal inicial ao longo dos meses.

No 7º mês de avaliação, a soroconversão geral foi de 99,7% (anti-RBD), 80,9% (anti-N) e 75,4% (anti-S), respectivamente. Os idosos, que costumam ter uma resposta naturalmente mais baixa às vacinas, apresentaram maior produção de anticorpos do que os adultos que ainda não haviam tomado o reforço.

Já nas coletas do 10º e 13º mês, quando toda a população do estudo era elegível para tomar as três doses, a resposta imune humoral se manteve elevada em ambos os grupos etários, com valores superiores a 90%. A dose de reforço da CoronaVac também aumentou os títulos de anticorpos em duas a cinco vezes.

Outro achado do estudo é que títulos mais altos de anticorpos IgG anti-Spike trimérico foram associados a uma menor probabilidade de infecção. Ao final de um ano de acompanhamento, a soroconversão desse tipo de anticorpo foi de 97,2% nos adultos e 95,6% nos idosos.

Os resultados do trabalho de sorologia complementam a análise de efetividade feita em 2021 no Projeto S. “É importante relembrar que Serrana foi utilizada como uma prova de conceito. Nós vacinamos a maior parte da população adulta da cidade e demonstramos que houve redução no número de casos sintomáticos, de internações e de mortes – ou seja, mostramos a efetividade da vacina no mundo real”, aponta o diretor do Hospital Estadual de Serrana, Marcos Borges.

Resposta imune celular

Além da produção de anticorpos, outra parte importante da defesa do nosso organismo é a resposta celular, que ocorre com a ação dos linfócitos T, responsáveis por reconhecer e eliminar as células infectadas pelo vírus. De acordo com Gustavo Volpe, a próxima etapa do estudo é avaliar esse tipo de resposta nas pessoas vacinadas com a CoronaVac em Serrana. A análise está em fase inicial e será feita em uma subamostra de 200 indivíduos, adultos e idosos.

“Essa investigação exige processos laboratoriais muito mais complexos, por envolver cultivo de células. Por isso, entre os 3 mil voluntários iniciais, nós selecionamos uma amostra menor aleatoriamente, com cerca de 200 pessoas para cada coleta, totalizando aproximadamente 800 amostras – o que é um número expressivo. Em geral, estudos de resposta celular costumam trabalhar com 80 a 100 amostras.”

Fonte: Instituto Butantan

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