sapo

O animal vertebrado mais letal do mundo pode parecer um simples sapinho, de cores vibrantes e inofensivo. Mas a verdade é que o Phyllobates terribilis, uma espécie altamente venenosa que habita a floresta amazônica da Colômbia, possui uma toxicidade capaz de matar predadores e seres humanos em poucos minutos – mesmo sendo bem pequeno: ele mede cerca de 3 centímetros.

Como este sapo não é nativo do Brasil, não há um nome popular para ele na língua portuguesa. O Phyllobates, que em grego significa “escalador de folhas”, é conhecido pelos termos em inglês golden poison frog (rã venenosa dourada), golden dart frog (rã dardo dourada) ou golden poison arrow frog (rã flecha dourada). Entre os zoólogos, é chamado de dendrobates dourado e pertence à família Dendrobatidae. Existem outras cinco espécies nesse gênero, que se espalham pela Amazônia colombiana e chegam até o sul da Nicarágua.

Como todos os anfíbios, o dendrobates dourado possui glândulas de veneno distribuídas por toda a pele e concentra grande quantidade da substância batracotoxina, responsável pela sua letalidade.

Para entender a toxicidade desse anfíbio, é preciso explicar o processo natural que acontece no meio ambiente. A batracotoxina é um alcaloide, produzida em geral por plantas, animais e fungos. Os besouros e as formigas são alguns dos insetos que se alimentam de fungos, e estes dois insetos fazem parte da dieta do Phyllobates terribilis. É a partir daí que a espécie adquire o veneno.

“Os anfíbios em geral produzem o seu próprio veneno, que fica nas glândulas da pele. O Phyllobates terribilis e outros dendrobates desenvolveram um processo que chamamos de sequestro, ou seja, o bicho come as formigas ou os besouros e absorve a substância tóxica produzidas pelos fungos que foram ingeridos pelos insetos”, explica o diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan, Carlos Jared.

Segundo o Museu Americano de História Natural, o sequestro da batracotoxina tem o potencial de fornecer ao Phyllobates uma carga tóxica suficiente para matar dez humanos, 20 mil camundongos ou, ainda, dois elefantes africanos. A substância age abrindo os canais de sódio das células nervosas, inativando a contração dos músculos e ocasionando paralisia, fibrilação cardíaca, insuficiência cardíaca e até a morte.

“Essa carga tóxica é principalmente direcionada a eventuais predadores, incluindo as cobras. Entretanto, a Erythrolamprus Epinephelus [uma das espécies de falsa coral] parece ser a serpente predadora natural desses animais. Possivelmente, durante toda a sua história evolutiva, ela desenvolveu alta resistência à batracotoxina. Para se preservar ainda mais, foi observado que ela tem uma especial preferência em predar os filhotes do Phyllobates, já que os adultos são bem mais tóxicos”, diz o pesquisador.

Pequeno, mas intimador 

Na natureza, é com o passar do tempo que os animais predadores vão descobrindo o que pode ser uma presa ou não. Em sentido oposto, os animais predados vão descobrindo como podem utilizar suas características físicas, como cores e sons, para afastar predadores. O Phyllobates apresenta um comportamento chamado aposematismo, que é uma estratégia de sobrevivência que faz com que seus predadores percebam, por meio de sua cor amarela intensa, que ele é impalatável e tóxico. Na floresta, essa coloração chamativa é um fator importante para espantar possíveis predadores e agressores. Basicamente, esses animais se expõem para mandar uma mensagem clara: ‘não me toque’.

Outra curiosidade é que a capacidade de aprendizado do animal caçador contribui para a manutenção das espécies aposemáticas, permitindo que elas explorem novos espaços.

“O aposematismo significa que você pode ver ao longe. Então, mesmo que ele seja pequeno, as suas cores chamativas indicam ao predador, mesmo de longe, que ele pode ser perigoso no meio da floresta”, explica Jared.

Há alguns anos, o pesquisador foi orientador de uma aluna colombiana, da Universidade de Cali, que utilizou as instalações do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan para estudar o animal e suas glândulas de veneno. O trabalho resultante dessa pesquisa ainda não foi publicado em revistas científicas.

Curiosidade indígena

A batracotoxina é um veneno tão letal que até hoje serve como arma para os povos indígenas, particularmente os emberás, que habitam as florestas amazônicas da costa do oceano Pacífico. Há milhares de anos eles utilizam a substância presente no Phyllobates terribilis nos dardos de suas zarabatanas para abater animais, principalmente macacos, e para se defender de ataques de outras tribos ou pessoas estranhas. Para fazer com que o dendrobates dourado secrete o veneno, eles perfuram o anfíbio com pequenas hastes de madeira e, assim, coletam a substância e a passam em suas flechas.

Fonte: Instituto Butantan

Compartilhar: