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Valdemir Antonio Peressin é nome do pesquisador responsável pelo desenvolvimento de seis novas cultivares de batatas-doces mais produtivas e mais nutritivas, lançadas recentemente na unidade da APTA Regional de Presidente Prudente. As novas variedades, resultantes do programa de melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), nasceram da preocupação do engenheiro agrônomo em relação à deficiência nutricional da população.

“Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam que, no mundo, 48% das crianças com menos de cinco anos de idade sofrem com quadro de anemia. No Brasil, 55% das crianças nessa mesma faixa etária apresentam carência de ferro e 13% têm níveis baixos de vitamina A. Quando tive acesso a esses números, fiquei chocado”, conta Peressin.

Mas, segundo ele, a indignação deu lugar à iniciativa. “Pensei na melhor forma de contribuir para a redução desse quadro e reforçar o compromisso do IAC em combater a deficiência nutricional em nosso País.”, disse o pesquisador. Movido por este compromisso, Peressin iniciou os estudos com babatas-doces em 2016, a partir do cruzamento de seis variedades nos municípios de Campinas, Mococa e Piracicaba. Naquele mesmo ano foram geradas 30 mil sementes e dois mil clones.

“Desse montante, selecionamos os 16 melhores clones de batata-doce de polpa alaranjada, coloração que indica alta concentração de betacaroteno.”, explica. O betacaroteno é um pigmento natural, de cor laranja, presente em alguns alimentos. Uma vez consumido, converte-se em vitamina A no organismo (vitamina essencial ao bom funcionamento do sistema imunológico e a muitos outros benefícios para a saúde humana).

Em entrevista ao portal da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), o pesquisador Valdemir Peressin fala sobre a sua pesquisa e os resultados que foram recentemente apresentados no município de Presidente Prudente, principal produtor de batata-doce em território paulista. Na ocasião, o governador João Doria e o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Itamar Borges, fizeram a entrega simbólica desta tecnologia ao setor.

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APqC – Além dos aspectos nutricionais, as novas variedades de batatas-doces se mostraram mais produtivas do que as tradicionais. Como isso pode impactar a sua produção no Estado de São Paulo?
Peressin – Os clones gerados pelo IAC superaram as 32 toneladas por hectare. Esse desempenho representa mais do que o dobro do que é produzido, em média, no Brasil, que gira em torno de 14 toneladas por hectare. Levando em conta que produzir batata-doce é muito mais fácil do que produzir cenoura, por exemplo, e que a variedade desenvolvida pelo IAC é de baixo custo, podemos dizer que ela é o alimento perfeito para ocupar a mesa das famílias mais pobres, que é onde estão as crianças com deficiência de ferro. Além dessa demanda interna, há uma grande demanda externa por batata-doce. Há um mercado promissor à espera do produto, que deve chegar em breve aos mercados brasileiros.

APqC – Que lugar ocupa a batata-doce na alimentação do brasileiro? A impressão é que ela ainda não faz parte da dieta básica da maioria, mesmo sendo um alimento relativamente barato.
Peressin – Em 1994, o IAC lançou a primeira mandioca de polpa alaranjada e o brasileiro não comia essa mandioca. Hoje ela é a principal variedade cultivada e consumida não só no estado de São Paulo, como em várias cidades do Brasil. Eu acredito que isso também pode acontecer com a batata-doce de polpa alaranjada, assim que ela começar a ser produzida e distribuída em larga escala. A boa notícia é que o diretor do IAC, Marcos Landell, já está providenciando o registro das novas cultivares.

APqC – Alguma cultivar se destaca entre as variedades desenvolvidas?
Peressin – Sim, temos apostado na IAC 1063, que é justamente a de polpa mais alaranjada. Ela será registrada como IAC 135, em homenagem aos 135 anos do Instituto Agronômico de Campinas, completados este ano. Lembrando que, quanto mais escura for a coloração alaranjada da polpa, maior será a quantidade de vitamina A. Essa cultivar, em especial, tem uma concentração bastante alta.

APqC – E quanto à indústria? De que modo a batata-doce pode ser absorvida?
Peressin – As novas cultivares são muito atrativas para a indústria de processamento, pois possui características que agradam os consumidores. Além do elevador teor de nutrientes, que já foi citado, apresentam coloração, sabor e textura diferenciadas. Ela pode ser melhor utilizada na gastronomia também. A batata-doce de polpa alaranjada do IAC é uma das espécies que mais apresentam potencial para a biofortificação de alimentos. É questão de tempo que ela ocupe espaço na bataticultura brasileira.

Conheça as novas cultivares do IAC

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IAC 1049: Tem casca e polpa roxas. Possui substâncias antioxidantes. Sua ingestão se assemelha a consumir uma planta medicinal. Além do uso na gastronomia, ela é indicada para a indústria de alimentos na produção de doces e farinhas.

IAC 417: Tem casca rosada e clara e polpa amarelo pálido. A variedade apresenta ótima qualidade de fécula e farinha, sendo indicada para a indústria.

IAC 21: Tem casca roxa e polpa amarelo pálido. É indicada para o consumo de mesa. Apresenta alto rendimento comercial.

IAC 198: Tem casca roxa e polpa amarelo pálido. Sabor agradável. Indicada para o consumo de mesa.

IAC 1308: Tem asca roxa e polpa amarelo pálido. Indicada para o consumo in natura devido ao seu sabor especial.

IAC 1063: A única com polpa alaranjada, coloração que indica alta concentração de betacaroteno. É atrativa por seus atributos nutricionais, tornando-se mais interessante para a gastronomia. Rica em açúcar maltose, o que a torna muito saborosa. Esse perfil atrai toda a cadeia da produção até o comércio.

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