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Desde o lançamento da fábrica da vacina Influenza, em 2011, o Instituto Butantan vem se preparando para possíveis pandemias da doença. Uma dessas estratégias é o desenvolvimento de novas candidatas a vacina, capazes de combater diferentes vírus com potencial de gerar surtos e epidemias. É o caso da vacina contra a gripe H7N9, produzida com adjuvante próprio, que se mostrou altamente segura e imunogênica na fase 1 de ensaios clínicos, segundo estudo publicado na revista PLOS ONE e conduzido em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Biomedical Advanced Research and Development Authority (BARDA) e o Infectious Disease Research Institute (IDRI), dos Estados Unidos. A H7N9 é uma cepa com potencial pandêmico que já causou seis epidemias na China e matou 40% dos infectados.

Coordenado pelo Centro de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância, o estudo clínico de fase 1 incluiu 432 adultos de 18 a 59 anos e serviu para orientar os próximos passos do Butantan em relação à segurança e imunogenicidade da vacina, possibilitando uma resposta ágil em caso de pandemia. Nesse momento, não é possível avaliar a eficácia do imunizante em fases 2 e 3, pois não há gripe H7N9 no Brasil. Mas os resultados da fase 1 já confirmaram que a inclusão do adjuvante IB160 na vacina pode dobrar a quantidade de doses produzidas com a mesma quantidade de IFA (insumo farmacêutico ativo), além de potencializar a resposta imune.

“Com uma dosagem de apenas 7,5 microgramas de antígeno, em conjunto com o adjuvante, já obtivemos uma alta resposta imune. Trata-se de metade da quantidade de antígeno usada em cada monovalente da vacina sazonal da gripe (15 microgramas). Ou seja, poderíamos vacinar o dobro de pessoas”, explica o gerente de desenvolvimento e inovação de produtos do Butantan, Paulo Lee Ho, que coordenou o desenvolvimento do adjuvante.

O H7N9 sozinho induz baixa resposta imune, por isso a necessidade de um adjuvante para desenvolver uma vacina efetiva contra a doença. “O fato de termos um adjuvante nosso em mãos, sem necessidade de importação de insumos, é muito importante”, ressalta a bióloga e coordenadora de redação médica do Butantan, Maria da Graça Salomão, uma das autoras do artigo. “A fase 1 não só nos orienta em que sentido progredir, mas nos capacita a entrar com pedido de registro da vacina futuramente, assegurando autonomia na produção do imunizante para o combate de epidemias”, completa.

O adjuvante IB160 é baseado em uma emulsão de água e esqualeno, um lipídio naturalmente produzido pelo organismo com a função de armazenar energia. O composto foi produzido após uma transferência de tecnologia do adjuvante análogo do IDRI, conhecido produtor de adjuvantes vacinais. No estudo clínico, a formulação do Butantan se mostrou superior à americana, induzindo maior produção de anticorpos (um aumento de 4,7 vezes contra 2,5 vezes).

Aprimorando outras vacinas

Segundo Paulo Lee Ho, o adjuvante do Butantan pode ser explorado em futuros estudos para desenvolver vacinas contra outras doenças ou para melhorar a resposta de imunizantes já existentes. Além disso, o IB160 tem potencial de ampliar o número de doses produzidas usando a mesma quantidade de antígeno.

“No caso da vacina sazonal trivalente contra influenza, por exemplo, um ovo é usado para produzir uma dose [com três monovalentes]. Se eu usasse o adjuvante IB160, provavelmente conseguiria usar um ovo para duas doses [seis monovalentes], dobrando a quantidade de doses por ovo”, aponta o cientista.

Uma fábrica chave contra pandemias

A estratégia do Butantan de construir uma planta de produção de Influenza sazonal, além de beneficiar a saúde pública ajudando a controlar a doença, também foi pensada para auxiliar o país a combater futuras emergências globais. Isso porque a fábrica pode ser adaptada facilmente para produzir outras cepas do vírus. “Agora, se tivermos um surto de H7N9, estamos preparados para conduzir estudos de fase 2/3 de forma rápida e solicitar uso emergencial da vacina”, diz Paulo.

Desde 2013, o Butantan fornece a vacina da gripe ao Ministério da Saúde para distribuição no Sistema Único de Saúde (SUS), com 80 milhões de doses entregues no último ano. O produto foi incluído na lista de imunizantes pré-qualificados da OMS em 2021, o que permite que ele seja exportado para outros países do mundo. Recentemente, o Butantan exportou mais de um milhão de doses para o Equador, Nicarágua e Uruguai.

Fonte: Instituto Butantan

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