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Em nota, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) denunciou o que considera um “desmonte” público no enfrentamento da febre maculosa. O texto foi divulgado um dia depois de o Instituto Adolfo Lutz confirmar a morte da dentista Mariana Giordano pela doença.

Mariana, de 36 anos, morreu no dia 8 de junho em um hospital de São Paulo. O namorado dela, o piloto Douglas Costa, de 42 anos, morador de Jundiaí, faleceu horas antes, em sua cidade. O casal tinha visitado duas áreas rurais de Campinas, além de Monte Verde, em Minas Gerais. Não é possível afirmar com exatidão que a contaminação ocorreu em Campinas, mas a cidade é uma das áreas de risco para a doença no país.

Na terça (13), foi confirmado o falecimento de um adolescente de 16 anos, moradora de Campinas. No dia 27 de maio ela esteve no evento na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio, local provável de infecção, onde outras três pessoas estiveram antes dela e morrerem esta semana em decorrência da doença, incluindo o piloto e a dentista.

O estado totaliza quatro óbitos neste ano e a situação já se configura como um surto localizado. O distrito de Joaquim Egídio é mapeado como área de risco para febre maculosa.

Com as quatro mortes confirmadas pela doença, a situação já se configura como um surto localizado, de acordo com a Secretaria de Saúde de Campinas. O distrito de Joaquim Egídio é mapeado como área de risco para febre maculosa.

No texto, a APqC afirmou que recebeu “com preocupação” a notícia de mortes provocadas pela febre maculosa. A entidade acrescentou ainda que “o Estado vem sofrendo, nos últimos anos, um desmonte da estrutura de pesquisa científica, essencial para orientar ações de vigilância epidemiológica”.

“Sem investimentos em ciência, a resposta a casos como este, de morte provocada por uma bactéria, fica comprometida e expõe a sociedade ao risco de novos casos e mortes”, denuncia a entidade.

A APqC esclareceu que a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), responsável pelos estudos nesta área, foi extinta em 2020, durante o governo de João Doria, o que atingiu em cheio os projetos de pesquisa. A estrutura formada por 14 laboratórios –  2 na capital paulista e os demais em diferentes regiões do estado – “está até hoje com operações comprometidas, afetando e até cancelando novas pesquisas”.

A entidade e o Instituto Pasteur encaminharam uma proposta para que os laboratórios sejam incorporados ao Pasteur, em março deste ano, mas aguarda decisão do Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Em 2016, uma decisão entre a Secretaria de Meio Ambiente e a Secretaria da Saúde definiu diretrizes para o controle da Febre Maculosa. O documento atribuía à Sucen pesquisas em locais com casos confirmados da doença, identificando os tipos de carrapatos, além do monitoramento e orientação aos municípios, conforme a nota.

“Sem investimentos em ciência, a resposta a casos como este, de morte provocada por uma bactéria, fica comprometida e expõe a sociedade ao risco de novos casos e mortes. É urgente investir em Institutos de Públicos de Pesquisa, alguns há 20 anos sem concurso público, além de salários defasados em relação a outros Estados da Federação”, cobram os pesquisadores.

Eles ressaltam que, apesar do desmonte e da falta de condições, “institutos Públicos, como o Adolfo Lutz, responsável pela análise das amostras coletadas das vítimas, ainda são referência em atendimento à população brasileira e merecem o reconhecimento da sociedade”.

Com o fim da (Sucen), os servidores foram transferidos para diferentes áreas da Secretaria do Estado da Saúde (SES).  A equipe de pesquisadores foi remanejada para o Instituto Pasteur; os profissionais dos laboratórios foram para o Instituto Adolfo Lutz e outros trabalhadores de campo foram realocados na Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD).

Com isso, outros três estudos de vigilância já haviam sido paralisados: um sobre transmissão e prevenção de leishmaniose, o segundo sobre malária na Mata Atlântica e outro sobre caramujos hospedeiros da esquistossomose, informa o sindicato da categoria.

“Esses estudos são extremamente importantes, pois em 2017 graças ao trabalho dos pesquisadores científicos e dos profissionais de campo da Sucen, a chegada da febre amarela no estado de São Paulo foi detectada muito antes e a vacinação pode ser realizada nos bairros onde foram detectados focos da doença na capital”, diz o SindSaúde.

Outro problema que afeta a pesquisa no Estado com a extinção da Sucen e o avanço da pandemia de dengue, é a terceirização de serviços. Municípios com menos de 50 mil habitantes tiveram que contratar empresas terceirizadas para fazer a nebulização, informa o sindicato.

“Porém, como o SindSaúde-SP já ressaltou, não existe um controle nem um acompanhamento dos(as) profissionais que atuavam na Sucen, e a maneira como o inseticida é aplicado, gera desperdício do produto e má eficiência no controle dos mosquitos”, denuncia.

“O resultado disso é o avanço dos casos de dengue. Segundo a SES, entre janeiro e março deste ano foram registrados 61,3 mil casos em todo o estado, entre eles 1,6 mil pessoas ficaram internadas e houve 48 mortes.

Ainda de acordo com o sindicato, mesmo antes da extinção da Sucen, a entidade já vinha denunciado seu sucateamento”. Em 2019, foi apurada a necessidade de novas contratações para que a Sucen chegasse ao limite permitido de 2.100 trabalhadores (as), pois na época havia cerca de 1.225 profissionais atuando, de acordo com os dados do portal da transparência”.

Mas, “além do governo do estado não ter realizado as novas contratações necessárias, também extinguiu a Sucen e não foi estabelecida a plena continuidade dos serviços que eram realizados”, afirma o SindSaúde-SP.

A febre maculosa é causada por bactéria do gênero Rickettsia, transmitida por picada de carrapato. Ela não é transmitida diretamente entre pessoas pelo contato. No Brasil, os principais vetores são carrapatos do gênero Amblyomma.

Os principais sintomas da doença são dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, diarreia e dor abdominal, dor muscular constante, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas e paralisia dos membros, que começa nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.

A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo alerta que os sintomas podem ser facilmente confundidos com outras doenças que provocam febre alta e que há no estado duas espécies da bactéria causadora da doença.

A prevenção da febre maculosa inclui impedir o contato com o carrapato. Assim, em locais onde haverá exposição a carrapatos, algumas medidas podem ajudar a evitar a infecção: o uso de roupas claras para ajudar a identificar o carrapato; utilizar calças, botas e blusas com mangas compridas ao se movimentar em áreas arborizadas e gramados; evitar andar em locais com grama ou vegetação alta e usar repelentes de insetos.

O Ministério da Saúde recomenda a remoção – com uma pinça – se um carrapato for encontrado no corpo; não apertar, nem esmagar o inseto e, depois de removê-lo por completo, lavar a área da mordida com álcool ou sabão e água. Quanto mais rápido forem removidos os carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado, em 2023, foram registrados 17 casos de febre maculosa com oito óbitos, incluindo quatro casos confirmados desde segunda-feira (12). Em 2022, foram registrados 63 casos, com 44 óbitos confirmados. Já em 2021, foram 87 casos e 48 óbitos. Os municípios de Campinas e Piracicaba são hoje os que apresentam o maior número de vítimas da doença, segundo dados do governo paulista.

“A Secretaria de Estado da Saúde reforça que as pessoas que moram ou se deslocam para áreas de transmissão estejam atentas ao menor sinal de febre e que procurem um serviço médico informando que estiveram nessas regiões para fazer um tratamento precoce e evitar o agravamento da doença”, diz o órgão em nota.

A secretaria alerta para que as pessoas que estiveram na Fazenda Santa Margarida, em Campinas, entre o período de 27 de maio a 11 de junho e apresentarem febre e dor pelo corpo, dor cabeça ou manchas avermelhadas pelo corpo, procure atendimento médico imediatamente e informe ao médico que estiveram na região.

Com informações do Hora da Povo

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