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(Foto: Ramos com flores de Nectandra barbellata Coe-Teixeira, Laurácea / João B. Baitello)

Estudo publicado na revista Bioorganic Chemistry em janeiro deste ano aponta um composto natural, isolado dos galhos de uma espécie de canela, como potencial candidato ao desenvolvimento de um novo medicamento para a Doença de Chagas. A pesquisa revelou que a substância identificada como ácido cóstico pode alterar diretamente o sistema bioenergético do protozoário Trypanosoma cruzi, levando à morte do parasita.

A ação biológica do composto, pertencente à classe dos terpenos, foi avaliada em laboratório frente ao parasita causador da doença. Observou-se que a substância afetou o transporte de metabólitos e nutrientes para o protozoário. Estudos de microscopia eletrônica revelaram intenso dano ultraestrutural no citoplasma e desorganização das organelas intracelulares. Além disso, o ácido cóstico também abalou a membrana das mitocôndrias, que são vitais aos parasitas e únicas em cada indivíduo.

Atualmente, estima-se que mais de 4 milhões de pessoas estejam infectadas no Brasil com a doença, que causa aproximadamente 6 mil mortes por ano a partir de um quadro clínico com complicações principalmente cardíacas e gastrointestinais. A transmissão ocorre geralmente pelas fezes de insetos popularmente conhecidos como “barbeiro”. A busca por novos protótipos que auxiliem na cura dessa enfermidade é muito importante, já que o tratamento com benznidazol, único fármaco disponível no país para o tratamento dos pacientes acometidos com a doença, é considerado tóxico e pouco eficaz. Dessa forma, para contribuir com novas terapias, a química dos produtos naturais desempenha um papel importante na busca de compostos bioativos.

As Unidades de Conservação cumprindo sua função social

A coleta do material vegetal foi realizada no Parque Estadual Alberto Löfgren, zona norte da cidade de São Paulo, sede do Instituto Florestal (IF). A Nectandra barbellata, popularmente conhecida como canela-amarela, é nativa da Mata Atlântica dos estados de São Paulo e Espírito Santo.

A Lista Vermelha do Centro Nacional de Conservação da Flora, que utiliza os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), classifica a espécie como vulnerável. Ou seja, enfrenta um risco de extinção elevado. A grande ameaça à canela-amarela é a destruição de seu habitat, como ocorre na Serra da Cantareira com a expansão imobiliária e desmatamentos ilegais.

A vegetação nativa esconde compostos químicos ainda não revelados, o que realça a importância de estudos como este. Assim, seus resultados mostram como as Unidades de Conservação da Natureza são imprescindíveis para a pesquisa científica e a saúde pública.

O estudo faz parte das pesquisas realizadas pelo aluno de doutorado Vinicius Silva Londero, da Universidade Federal de São Paulo, com orientação do Prof. Dr. João Henrique Ghilardi Lago, da Universidade Federal do ABC, em parceria com pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, da Universidade de São Paulo e do Instituto Florestal e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O projeto está aprovado e registrado na Comissão Técnico-Científica do IF, que faz a gestão da pesquisas científicas realizadas nas unidades de conservação do Sistema Estadual de Florestas do Estado de São Paulo.

O pesquisador científico do IF, especializado na família das Lauráceas, João Batista Baitello, foi parceiro neste trabalho interinstitucional, apresentando, identificando e indicando os locais para a coleta da espécie. Em geral, quando se utiliza uma espécie botânica em estudos químicos, recomenda-se que um exemplar seja depositado em herbário oficial. O testemunho da canela-amarela utilizada nesta pesquisa encontra-se no Herbário Dom Bento José Pickel (SPSF), do Instituto Florestal.

Acesse o artigo:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0045206819315536

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