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Assim como vírus que se espalham rapidamente, as chamadas fake news têm alto poder de disseminação e são capazes de colocar inúmeras pessoas em perigo. Sem saber muito bem como, de onde e com qual intenção, esses patógenos extremamente nocivos à saúde humana surgem de tempos em tempos. Recentemente, um vídeo de tom sensacionalista, com explicações confusas e de fontes duvidosas ganhou relevância nas redes ao afirmar erroneamente que a vacina Influenza poderia provocar câncer a longo prazo.

“Até hoje, não existe nenhum dado científico que comprove que uma vacina tenha causado câncer ou qualquer outro tipo de infecção na população imunizada”, reforça a pesquisadora científica do Laboratório de Biotecnologia Viral Soraia Attie Calil Jorge. Desenvolvido pelo Instituto Butantan, o produto integra o Plano Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde desde 1999. Atualmente, 80 milhões de doses são disponibilizadas anualmente aos brasileiros via Sistema Único de Saúde (SUS).

De acordo com o vídeo desinformativo, a vacina contra gripe apresentaria uma combinação de “causadores silenciosos de câncer”, como os vírus sincicial respiratório (VSR), o HPV e o da caxumba – uma informação que não condiz com a realidade. “O único vírus encontrado na composição desse imunizante é, exclusivamente, o influenza. Porém, esse microrganismo está inativado, ou seja, não possui capacidade de se replicar e desencadear a doença, muito menos um câncer. Pelo contrário, sua única função é estimular a produção de anticorpos e proteger o organismo contra a ação do patógeno”, explica Soraia Jorge.

Outra mentira era sobre a presença de fungos no produto. A verdade é que, por ser um antiviral, nenhum tipo de fungo ou bactéria participa da fabricação da vacina. “Isso só seria possível caso acontecesse algum tipo de contaminação durante o processo produtivo, como uma falha na esterilização de materiais utilizados”, exemplifica a pesquisadora científica do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação Ana Olívia de Souza, especialista em fungos.

Entretanto, a possibilidade é muito remota, uma vez que  o processo é rigorosamente padronizado, controlado e monitorado – são 21 etapas produtivas, desde o recebimento dos ovos, matéria-prima para a replicação dos vírus, até a finalização de um único monovalente, sempre de acordo com as regulamentações nacionais e internacionais. Por se tratar de uma vacina trivalente, é necessário repetir esse mesmo processo por três vezes. “Em paralelo, tudo é constantemente testado e avaliado pelas áreas de Controle e Garantia da Qualidade”, completa Ana Olívia. Para se ter uma ideia, cerca de 50 análises são realizadas durante a fabricação dos monovalentes.

O imunizante também possui Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é pré-qualificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que o libera automaticamente para exportação aos países da América Latina – mais uma vez atestando sua qualidade e segurança.

Estudos, testes e acompanhamento contínuo

Quando uma vacina está em desenvolvimento, ela passa por diversas etapas até, finalmente, ser aplicada na população. “Os primeiros testes são feitos in vitro e nosso objetivo é entender se aquele composto que está sendo formulado como uma possível vacina realmente funciona”, afirma Soraia Jorge.

Se os resultados forem positivos, passa-se para os testes pré-clínicos, feitos em modelos animais. Os imunizantes precisam ser avaliados em três espécies diferentes, geralmente coelhos, camundongos e ratos – alguns também são avaliados em primatas não-humanos, como macacos. “Caso a formulação funcione sem nenhum tipo de efeito adverso, passa-se para as fases clínicas, em humanos”, completa.

Esse estágio abrange três momentos: a fase 1, que engloba poucas pessoas, sendo todas elas saudáveis (com baixo risco de desenvolver algum tipo de efeito colateral) e o objetivo é atestar a segurança da vacina; já a fase 2 observa a imunogenicidade do produto, que é aplicado em uma amostra maior de pessoas; por fim, na fase 3, a eficácia do imunizante é analisada e mais uma vez o número de voluntários é ampliado em relação à etapa anterior.

Somente após passar por todas as etapas e, obviamente, com resultados positivos em mãos, que uma biofarmacêutica como o Instituto Butantan consegue obter a aprovação de uso e o registro regulatório do novo imunizante junto às autoridades locais de saúde.

E mesmo depois que o produto é liberado e aplicado na população o controle continua, por meio das agências reguladoras e dos fabricantes. Como produtor da vacina Influenza, o Butantan disponibiliza um Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) para coletar informações sobre qualquer tipo de efeito adverso relatado após a aplicação do imunizante. Os casos são sempre avaliados e, quando específicos, acompanhados de perto pelas áreas de Ensaios Clínicos e Farmacovigilância. Além disso, o Instituto mantém estudos de “vida real”, monitorando o desempenho de suas vacinas na população.

A ciência funciona em cima de dados que são profundamente analisados e constantemente revistos, sendo que as vacinas são a única maneira de se prevenir contra doenças causadas por vírus. “É difícil não fugir da máxima que vacinas salvam vidas, pois essa é a verdade. Trata-se de um recurso vital e disponível a todos. Não podemos perder essa cultura”, finaliza Ana Olívia.

Fonte: Instituto Butantan

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