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Após 20 anos de estudos, pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) descobriram uma forma de modificar uma bebida popular entre os brasileiros, o tradicional cafezinho. O grupo conseguiu desenvolver uma técnica para que o café saia da natureza já sem cafeína. Seria como o café descafeinado encontrado nos supermercados, mas sem os processos industriais para retirar a substância que acaba causando malefícios para os consumidores. Agora, o estudo está em fase de teste para posterior comercialização.

Essa é a etapa decisiva da pesquisa, que consiste no desenvolvimento de variedades de café naturalmente descafeinado, com potencial comercial expressivo para também atrair consumidores do exterior. Atualmente, o instituto está realizando testes de campo com diferentes plantas que geram grãos com baixo teor de cafeína. Os pesquisadores estão fazendo o cruzamento de treze variedades para chegar ao grão naturalmente descafeinado que será lançado comercialmente. Os processos industriais que retiram a cafeína geram custos mais altos do que um produto 100% natural.

O plantio das variedades descafeinadas está sendo feito em diferentes regiões. Daqui a dois ou três anos, quando as plantas começarem a produzir os primeiros grãos, os cientistas do IAC passarão a avaliar se o café naturalmente descafeinado poderá ser produzido em escala comercial.

Júlio César Mistro, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, reforçou que o objetivo é desenvolver um grão que saia do campo com baixo teor de cafeína. Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 277 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que o café seja considerado descafeinado, o valor máximo permitido de cafeína nos grãos deve ser de 0,10%. Os cafés comercializados nos supermercados possuem concentração de 1,2% de cafeína.

“Atualmente, para se ter um café descafeinado, aquele que compramos nos supermercados, é preciso que se proceda à retirada da cafeína mediante processos industriais. Isto é feito por meio de solventes químicos ou por água, acarretando em uma elevação do custo tanto para as indústrias como para o consumidor final.”

Júlio César Mistro explicou que a comercialização pode demorar, pois ela depende do resultado dos testes. “Nós vamos levar cerca de sete ou oito anos para finalizar a pesquisa. Depois, para chegar aos supermercados, mais quatro anos. Vamos levar 12 anos até esse café chegar ao supermercado. Então, não é uma coisa rápida. Isso é devido ao fato de que o café é uma cultura perene.”

Com relação ao custo final para o consumidor, o pesquisador estima que pode ser mais barato em relação aos cafés descafeinados que passam por processos industriais.

“É difícil falar se o café naturalmente descafeinado será mais barato. É para ser, porque a indústria vai economizar justamente nesse custo de mandar para fora do país, ou mesmo dentro do país, para descafeinar. Agora, se ela vai passar isso para o cliente, é com ela. É para ser mais barato, na teoria.”

Com relação aos benefícios do café descafeinado, o pesquisador do IAC disse que ele é recomendado para pessoas sensíveis à cafeína. Dessa forma, estas pessoas que apreciam a bebida podem consumi-la.

“A cafeína pode causar arritmia cardíaca, nervosismo, inquietação, problemas digestivos e hipertensão arterial. Recentemente, estudos vêm mostrando efeitos prejudiciais da cafeína durante a gravidez.”

Além disso, esse tipo de café pode ajudar quem sofre de insônia e não abre mão de beber uma xícara de café na parte da noite. “A ingestão de café no final do dia e no começo da noite causa insônia na maioria das pessoas, o que limita o seu consumo. O café descafeinado também atende justamente estes consumidores que desejam tomar café nesses horários, mas não o fazem por afetar o sono.”

Por fim, o pesquisador fez questão de destacar o agradecimento ao Consórcio Pesquisa Café, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro à pesquisa, que começou em 1999 com a pesquisadora Maria Bernadete Silvarolla, do IAC, e com o professor Paulo Mazzafera, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Esses pesquisadores iniciaram as avaliações de cafeína em uma população de plantas do banco de germoplasma do IAC. Após cinco anos de pesquisas, foram descobertas três plantas denominadas AC1, AC2 e AC3. Elas foram cruzadas com cultivares de café arábica (Obatã, Catuaí, Mundo Novo e Ouro Verde), buscando transferir esta característica de café descafeinado para a descendência. Após 20 anos de seleção, 13 plantas de café naturalmente descafeinadas e com uma boa produção foram clonadas. Elas estão sendo plantadas em ensaios regionais para as avaliações finais.

Fonte: Correio Popular
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