Diminuição da cobertura vegetal pode agravar cenário de altas temperaturas
Neste fim de setembro, além do início da primavera, ocorre o fim do inverno, época em que o hemisfério sul recebe menos luz solar e tende a ficar mais frio.
No entanto, a estação foi marcada pelo calor e, nesta semana, foi batido o recorde de temperatura do ano, com a emissão de um alerta que levou a prefeitura a restringir algumas atividades ao ar livre.
O g1 Campinas conversou com a diretora da APqC, pesquisadora e ex-curadora do herbário do IAC, Roseli Buzanelli Torres, para refletir sobre o cenário atual da cobertura arbórea na metrópole e como isso pode impactar o clima.
Campinas já foi uma referência na arborização urbana e reúne importantes centros que pesquisam essa área como IAC, Embrapa, Unicamp.
Neste último ano, porém, uma série de acontecimentos agravou a situação das árvores em Campinas. Primeiro, com quedas que provocaram destruição e morte de pessoas. A primeira, ocorrida ainda nos últimos dias de dezembro de 2022, quando um motorista que passava na via que circunda o Bosque dos Jequitibás foi atingido por uma árvore.
Depois, em janeiro deste ano, uma menina de 7 anos morreu após ser atingida por uma árvore que caiu no Parque do Taquaral.
O que aconteceu, como consequência, foi o fechamento de todos os parques da metrópole para avaliação de suas árvores e uma sequência de derrubadas que acabaram provocando alguns impasses, como as 181 do Taquaral, e os contralaudos no Bosque dos Jequitibás.
Além destas, outras árvores também foram derrubadas pela prefeitura de Campinas e provocaram comoção pública, como duas falsas-seringueiras, uma no Jardim Madalena em julho e outra em Barão Geraldo, em agosto. Ou de forma irregular, como o aumento das denúncias de desmatamento ocorridas no Distrito Campo Grande.
E casos de vandalismo, como um flagrado nesta semana no Parque Taquaral, quando um homem destruiu algumas mudas que foram plantadas na calçada.
A diminuição de árvores existentes no território de Campinas pode acarretar em um aumento da temperatura média. Responsável por criar um microclima, a pesquisadora Roseli Buzanelli Torres comenta sobre a importância das árvores no controle da temperatura, especialmente dentro da cidade que possui grande parte de sua área impermeabilizada por concreto e asfalto.
“As árvores são super importantes no controle da temperatura. Elas estão sempre retirando água do solo e jogando para atmosfera. Por isso que onde você tem árvore, você tem um efeito refrescante”, fala a pesquisadora Roseli Torres.
O efeito garante uma melhor umidade relativa do ar para a cidade, possibilitando uma diminuição da temperatura média e contribui, inclusive, para um menor gasto de energia elétrica que seria gasta em eletrodomésticos como ar-condicionado ou geladeiras.
Para além da questão de regulador de temperatura, as árvores contribuem para barrar parte do impacto da chuva antes dela chegar ao solo, evitando escorrimento superficial que pode provocar alagamentos nas áreas mais baixas do terreno.
Torres também ressalta a necessidade de se atentar a destruição da vegetação, que ocorre também em áreas nativas. A diminuição destes locais impacta diretamente na fauna que tem nas árvores a fonte de sobrevivência, do ponto de vista de alimentação e de abrigo.
“Um campo nativo de cerrado você não tem árvore gigantescas, mas também é um ecossistema muito importante, e a gente está perdendo essas árvores, tanto na região urbana quanto nas áreas nativas dentro da área rural. E nós não temos muito a comemorar”, comenta.
Para a pesquisadora, esta primavera deve apresentar temperaturas acima da média.
“Nós vamos ter primavera com temperaturas excepcionais. Num rastro de uma destruição excepcional também, tanto da arborização urbana, quanto da vegetação nativa no município e no país de um modo geral. Então, uma primavera quente e desmontada. É isso que a gente tá conseguindo colher, nesse momento”, conclui.
O que diz a prefeitura?
Em nota, a Secretaria de Serviços Públicos informou que existe uma política voltada à recomposição de árvores e que, a cada árvore extraída, outras 25 mudas são plantadas em Campinas. Segundo a pasta, para a Lagoa do Taquaral está sendo elaborado o Plano Diretor Florestal, pelo Instituto de Pesquisas Ambientais, ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, e pela Escola Superior Luiz de Queiroz (Esalq)/USP.
A Secretaria afirma que desenvolve projetos e executa obras de praças, parques e áreas de lazer, e que há um projeto de construção de um parque no Jardim Bassoli, com previsão de início de obra em outubro. A área de 115 mil metros quadrados terá equipamentos de lazer e esportes, recuperação de nascentes e reflorestamento com o plantio de 5 mil mudas de espécies nativas.
“Em relação a um plano para chuvas, a secretaria vem, desde março, fazendo um trabalho preventivo nas principais avenidas com grandes árvores, para evitar a queda de galhos. Por causa da chuva, cerca de 800 árvores precisaram ser suprimidas. Somente este ano, a Secretaria de Serviços Públicos plantou mais de 17, 4 mil árvores”, informou a Secretaria de Serviços Públicos.
Com informações do g1 Campinas