truta arco iris 1

Em parceria com a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), o Instituto de Pesca (IP-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) de São Paulo, finalizou um trabalho de duas décadas que resultou na comprovação da geração de uma linhagem clonal de truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) por meio da técnica de ginogênese induzida. A pesquisa está detalhada em um artigo científico publicado na revista Aquaculture Reports.

De acordo com Alexandre Rodrigues Caetano, um dos pesquisadores da Embrapa que colaborou na elaboração do artigo, a ginogênese é um tipo de clonagem natural que pode ser induzida no laboratório. “O método foi desenvolvido na década de 1960 e consiste na manipulação do desenvolvimento embrionário por meio de choques térmicos ou de pressão. Nesse processo, ocorre o desenvolvimento do embrião sem a contribuição genética do macho”, explica o pesquisador.

Para se obter essa clonagem induzida, os espermatozoides do macho são geneticamente inativados por meio de irradiação ultravioleta. Após a fertilização do óvulo (haploide) da fêmea com esse material, aplica-se um choque térmico no embrião para impedir a primeira divisão celular, tornando esse embrião diploide. A partir daí, ele se desenvolverá com o material genético exclusivamente materno, gerando, assim, um indivíduo homozigoto completo, que submetido a uma reprodução ginogenética subsequente vai produzir uma linhagem de clones.

“Essa técnica gera linhagens de clones de truta arco-íris que podem ser usadas em certos estudos avançados de imunologia, sanidade animal e nutrição, nos quais é interessante ter animais com materiais genéticos iguais”, explica Caetano. Ele destaca que também é possível desenvolver duas linhagens de clones com características específicas e cruzá-las com o objetivo de gerar peixes que vão para a engorda com mais produtividade. Ou seja, uma prole idêntica com características selecionadas.

Publicação 

O objetivo da pesquisa, de acordo com o pesquisador, foi avaliar a eficiência de protocolos-padrão de choque térmico na produção de clones de truta arco-íris, utilizando fêmeas de uma linhagem adaptada localmente no Brasil. O Instituto de Pesca realizou o trabalho de obtenção das linhagens clonais de truta arco-íris, repetindo o processo de ginogênese por nove gerações consecutivas, e a Embrapa viabilizou a publicação da pesquisa pela comprovação molecular da linhagem clonal.

“No ano passado, fizemos a análise de vários materiais de truta arco-íris no País utilizando a ferramenta TrutaPLUS, que é mais uma ferramenta oferecida pela Plataforma AquaPLUS da Embrapa. Entre eles, estava a linhagem clonal desenvolvida pelo IP-Apta-SAA, que foi analisada com marcadores SNP. Com isso, conseguimos confirmar que a linhagem obtida por meio da ginogênese induzida trata-se realmente de uma linhagem clonal, condição essencial para a publicação do artigo científico”, assinala Caetano.

Núcleo de Pesquisa do Instituto de Pesca promove a truticultura 

A pesquisadora aposentada Yara Aiko Tabata, do Núcleo Regional de Pesquisa em Salmonicultura Dr. Ascânio de Faria, do Instituto de Pesca, que fica em Campos do Jordão (SP), é uma das responsáveis pelo desenvolvimento da linhagem clonal de truta arco-íris e uma das autoras do artigo publicado na Aquaculture Reports.

De acordo com ela, o Núcleo tem o objetivo de promover o desenvolvimento da truticultura, por meio da pesquisa e da difusão tecnológica. “Parte dos resultados dessas pesquisas é transferida aos truticultores na forma de produtos e processos, como os ovos embrionados e alevinos monossexados, triploides, caviar de ovas de trutas, entre outros”, explica Tabata.

Para dar suporte a essas atividades, segundo ela, a unidade mantém diferentes linhagens de trutas que permitem ampliar a oferta de material experimental e, consequentemente, as áreas de pesquisas que podem ser conduzidas.

“Contudo, a geração e a manutenção dessas linhagens não são suficientes para garantir de forma plena a qualidade dos produtos e processos que são disponibilizados aos interessados, sendo fundamental a validação dos mesmos, com uso de ferramentas adequadas para cada procedimento”, esclarece a pesquisadora lembrando que, nesse sentido, a contribuição da Embrapa tem sido estratégica na análise genética aplicada nos principais estoques de trutas do Núcleo.

Fonte: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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