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Os eventos extremos e as emergências climáticas nortearam as apresentações dos cientistas no Instituto Agronômico Portas Abertas, evento que ocorreu nos dias 20 e 21, em Campinas e ofereceu aos visitantes a oportunidade de conhecerem os projetos de pesquisa da instituição e as descobertas de seus profissionais. Cerca de 1,9 mil pessoas estiveram no local. O aquecimento global tem exigido que as pesquisas do café, da cana-de-açúcar e das frutas prevejam a resistência destes alimentos ao aumento das temperaturas. Entre os projetos tecnológicos do IAC que estão observando os fenômenos climáticos são o café e a cana-de-açúcar, sendo adaptados aos climas mais quentes e destinados à exportação.

Pesquisas na área do café demandam um período extenso, podendo estender-se por até 30 anos. Este longo prazo é necessário para a descoberta de novas espécies, a modificação de sementes visando resistência a temperaturas elevadas, bem como o desenvolvimento de espécies adaptadas a regiões específicas do país. Dentro do escopo de pesquisa do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), destaca-se a fitopatologia, que investiga técnicas utilizando calor, frio e óleos essenciais como alternativas aos fungicidas e pesticidas convencionais.

Entre os projetos tecnológicos do IAC, voltados para a adaptação de plantas ao clima, destaca-se a pesquisa com seringueiras capazes de extrair látex em apenas cinco anos. Essas variedades, além de serem mais tolerantes e resistentes a doenças e pragas, representam uma significativa redução no tempo necessário para a exploração desse recurso, diminuindo o período inicial de 15 anos. A ausência desses avanços científicos tornaria a exploração da seringueira um processo muito mais demorado.

Regina Célia de Matos Pires, cientista e vice-diretora do IAC, enfatiza a importância de abrir as portas do instituto à população. Essa abertura possibilita que as pessoas conheçam e compreendam a diversificação na produção de alimentos, assim como a ciência e a tecnologia que se destacam como marcas registradas do Instituto.

Regina destaca o melhoramento genético vegetal como o carro-chefe dos projetos científicos, ressaltando, porém, que outra área de destaque é o banco de dados climáticos do IAC, cujo registro iniciou-se há 100 anos. As informações climáticas acumuladas ao longo desse período enriquecem as pesquisas do instituto, permitindo a inclusão do estudo de fenômenos relacionados às emergências climáticas, que têm causado danos irreversíveis ao planeta. Como um polo de inovação, os pesquisadores do IAC mantêm um compromisso sério com o propósito de contribuir significativamente para o avanço da agricultura no país.

No Brasil, 90% da produção de café tem origem em mudas desenvolvidas pelo IAC, enquanto globalmente esse percentual é de 70%. De acordo com Júlio César Mistro, pesquisador do instituto, o Brasil, por meio do IAC, desempenha um papel crucial na disseminação de conhecimento na produção de café.

Mauro Alexandre Xavier, cientista do IAC, lidera pesquisas para aprimorar a cana-de-açúcar. A abordagem por ele empregada é a ‘estratégia de seleção regionalizada’, que visa criar variedades de cana-de-açúcar adaptadas a diversas regiões do país. Esse método de melhoramento assegura que a cana-de-açúcar possa ser cultivada e colhida em vários estados, pois as sementes são modificadas para se ajustarem às características de solo e clima específicas de cada localidade. Xavier destaca que esse aprimoramento regionalizado resulta em ganhos significativos de produtividade, pois permite a adaptação às condições locais. Essa estratégia, conforme explica Xavier, é objeto de estudo no IAC desde 1990 e representa uma contribuição única da instituição.

Ele ilustra essa abordagem com o exemplo de Goiás, um estado que enfrenta déficit hídrico. A produção melhorou porque as variedades de cana-de-açúcar plantadas foram ajustadas às características da escassez de água da região. Para ilustrar a diversidade, o Brasil conta com 35 variedades de cana-de-açúcar.

Regina explica que as excelentes condições de clima, oferta hídrica e solo fértil garantem ao Brasil uma posição privilegiada no mundo, sendo o único a ter três safras anuais em razão de sua disponibilidade hídrica. Essas condições, inclusive, garantem ao Estado de São Paulo o lugar de maior produtor de amendoim. Só o IAC é detentor de 80% das variedades disponíveis no País. Ou seja, a maioria dos tipos de amendoim que consumimos surgiu das pesquisas científicas do IAC. Dessa forma, a disponibilidade de água faz da irrigação outra importante linha de pesquisa do órgão.

Os participantes do evento IAC Portas Abertas tiveram a oportunidade de se familiarizar com as técnicas de pós-colheita desenvolvidas para prevenir perdas, as quais envolvem a medição da quantidade de oxigênio consumida por frutas e outros alimentos. Pesquisas conduzidas pelo IAC revelaram uma correlação direta entre a quantidade de oxigênio e o aumento das chances de deterioração de frutas, verduras e legumes, como destacado pela pesquisadora Ilana Bron. Durante o evento IAC Portas Abertas, Ilana demonstrou, utilizando bananas e abacates, como o oxigênio acelera o processo de amadurecimento dos alimentos.

Com o objetivo de minimizar perdas, as técnicas empregadas incluem o armazenamento em câmaras frias, levando em consideração o ponto de tolerância específico de cada fruta. Este método visa prevenir perdas após a colheita, uma vez que o metabolismo acelerado contribui para a rápida deterioração da fruta. Ilana explicou que o acondicionamento ou armazenamento em ambientes frios reduz a taxa de respiração dos alimentos, desacelerando assim o processo de amadurecimento. Essas práticas visam não apenas preservar a qualidade dos produtos, mas também prolongar sua vida útil, contribuindo para a redução de desperdícios.

No cenário global, cinco em cada dez copos de suco de laranja consumidos têm origem na citricultura paulista e na tecnologia desenvolvida pelo IAC. O feijão carioca, desenvolvido na década de 60, destaca-se como o mais consumido no país, dentre os 1.150 tipos existentes. Além desses alimentos, o IAC investe na criação de variedades de arroz mais tolerantes à seca, visando à redução dos custos de produção, a promoção da economia de água e a diminuição do uso de agrotóxicos, conforme explica Mistro. Essa ampla diversidade de produtos contribui para que o agronegócio brasileiro responda por 45% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

PATRIMÔNIO

Fundado em 1887 por D. Pedro II, o IAC ostenta uma trajetória de 136 anos, sendo o mais antigo instituto de pesquisas agrícolas em atividade no Brasil. Localizado em Campinas, na Avenida Barão de Itapura, o IAC é o palco de atuação de pesquisadores de diversas áreas, alguns sucedendo cientistas anteriores, inclusive chegando à aposentadoria devido ao tempo exigido por descobertas científicas. Sob jurisdição do governo do Estado de São Paulo, o IAC conta com financiamentos da Fapesp, CNPq e parcerias público-privadas. Seu notável legado de 136 anos de contribuição para a ciência agronômica do país e do mundo posiciona o instituto como um dos centros de pesquisa mais relevantes e duradouros da América Latina, mantendo-se em atividade desde sua fundação em 1887.

Fonte: Correio Popular
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